Globalização e Contextos Locais na África Subsariana

Índice:

  • António Custódio Gonçalves - Prefácio
  • Adelino Torres - Incertezas e Interrogações sobre o Desenvolvimento Africano
  • João Gomes Cravinho - O Futuro da Cooperação Portuguesa
  • Maria Manuela Afonso - Cooperação para o Desenvolvimento: o papel da ajuda no contexto Africano
  • José Carlos Venâncio - Produção Cultural e Mercados. A experiência de alguns pintores cabo-verdianos
  • Manzambi Vuvu Fernando - A Produção da Arte Plástica na Perspectiva de criação de Mercados Culturais em África
  • M. L. Rodrigues de Areia - A Classificação e Desclassificação dos Objectos Artísticos Africanos
  • Michel Cahen - Será a Etnicidade culpada? As Ciências Sociais, a Jugoslávia, Angola e outros
  • António Custódio Gonçalves - Estado, Cidadania e Nacionalismo: o caso de Angola
  • Mikel Villarreal - Identidades Políticas y Comunidades Supraordenadas
  • Ivo Carneiro de Sousa - Colonialismo, economia-mundo e globalização: trajectórias e debates historiográficos
  • Ferran Iniesta - Bataille autour de la pensée traditionnelle en Afrique noire

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GONÇALVES (Org), António Custódio. 2002. Globalização e Contextos Locais na África Subsariana. Papers of V Colóquio Internacional "Globalização e Contextos Locais na África Subsariana", 2002, at FLUP - Porto.

Prefácio

No âmbito dos trabalhos desenvolvidos pela linha de investigação "Estados, Poderes e Identidades na África subsariana", integrada na Unidade I&D, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, publicam-se as Actas do V Colóquio Internacional "Globalização e Contextos Locais na África Subsariana", realizado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 3 e 4 de Maio de 2002.
A análise de temáticas, tais como identidades políticas, sociais e culturais, conflitualidades culturais, étnicas e religiosas, cidadanias, poderes e etnicidades, cooperação e desenvolvimento, produção cultural e novos mercados, políticas contra as pilhagens do património de África, por antropólogos, economistas, historiadores, psicólogos sociais e sociólogos, especialistas em estudos africanos, foi importante, sobretudo pelo questionamento de algumas visões eurocêntricas do desenvolvimento em África e pelas rupturas metodológicas nas trajectórias e encruzilhadas de modelos conceptuais e teóricos.
Nas comunicações apresentadas neste Colóquio entrecruzaram-se duas perspectivas fortes de análise da globalização, quer como fenómeno empírico, quer como construção teórica, e como conjunção da modernidade globalizante e da pré-modernidade local. Um dos contributos importantes deste Colóquio consistiu na análise de perspectivas múltiplas e interactivas do processo de globalização, que induz diferentes produções de cultura, contrariando lógicas de dissolução ou de confrontação de identidades distintas que emergiriam de um passado, de longa duração, de mútuo isolamento. Esta ruptura radical como passado, defendida por alguns cientistas sociais chamados "pós -modernos", consubstanciaria a assunção de que, outrora, as sociedades existiriam num isolamento virtual de umas em relação a outras.
Ora esta dicotomia entre uma modernidade globalizante e uma pré-modernidade local remete para uma reformulação recente da antiga dicotomia entre "civilizados" e "primitivos". Desta visão dicotómica resultam tensões constitutivas e efeitos perversos associados, por um lado, a uma pretensa homogeneização cultural do mundo contemporâneo e, por outro lado, a uma ilusão das sociedades tradicionais, ditas "primitivas", fundamentada em oposições canónicas do pensamento sócio-politico, tais como ethnos vs polis, gemeinschaft vs gesellschaft, holismo vs individualismo.
Os africanistas deram um contributo importante para a compreensão das sociedades não-ocidentais, na medida em que tentaram pensar as sociedades estudadas em termos comparativos. O que hoje se chama "globalização pré-colonial", é uma reformulação de uma questão antiga entre os africanistas respeitante à história de África e aos seus contactos com os outros continentes. Os ocidentais tiveram tendência a pensar as sociedades africanas em termos de redes, facto devido, em parte, às descrições dos exploradores, à longa presença em África de religiões mundiais como o cristianismo e o islamismo e devido também às linguagens escritas.
O debate teórico sobre os Estados, Poderes e Identidades, associado a fenómenos empíricos de crises do Estado, crises das democracias e do desenvolvimento, mantém toda a sua actualidade e importância.
Assim, neste Colóquio, pôs-se em relevo a centralidade das estratégias sociais e culturais do desenvolvimento, sublinhando os efeitos perversos do discurso da autarcia e do isolamento, próprio das perspectivas neo-negristas, e da submissão de identidades culturais e dos direitos humanos às leis de mercado (globalização no sentido fraco).
Três desafios importantes atravessaram este Colóquio. O primeiro salientou a necessidade da adequação da racionalidade económica e da inovação tecnológica à criatividade dos valores culturais autóctones. O segundo desafio consistiu na reavaliação da globalização e das identidades colectivas.
O conceito de identidade é um conceito confuso que se refere, simultaneamente, à cultura e à sua interpretação ideológica, aos sentimentos vividos, às fontes objectivas, como a história e o território, de que se alimentam, à unidade psicológica do sujeito e ao princípio de unidade colectiva do grupo.
O objecto de debates entre africanistas consiste, por um lado, em contribuir para situar esta confusão e, por outro lado, para analisar, tão claramente quanto possível, as condições nas quais se elaboram e se desenvolvam as reivindicações de identidades, assim como o seu carácter eminentemente relacional.
A mestiçagem intercultural de sociedades, culturas e civilizações é uma constante na história humana. O paradoxo da nova globalização consiste no facto de que em vez de tornar a identidade mais fluida parece fazer justamente o contrário, atendendo ao facto de que há identidades que se convertem em fundamentalismos étnicos, nacionais e religiosos.
O processo da recomposição política na África Subsariana, nomeadamente na África Central, é essencialmente transnacional, o que significa que as fronteiras políticas actuais são artificiais e que revelam a importância da continuidade das realidades pré-coloniais.
O terceiro desafio convocou a emergência e a urgência do papel decisivo da sociedade civil na construção da liberalização política e da cultura democrática; convocou, igualmente, a análise das novas problemáticas da relação entre poder individual e poder social, entre poder único e poder múltiplo, entre consenso e autocracia.

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